Se há coisa que todos os casais sabem, é que os filhos não são todos iguais. Cada um tem os seus traços de personalidade e o seu carácter, mais ou menos vincado. Se um é mais preguiçoso, outro é mais persistente. Se um é mais intenso, o outro prima pela suavidade. Se um se adapta bem às rotinas, outro desafia e fica contrariado com qualquer regra. Se um se concentra razoavelmente no estudo, outro é distraído por natureza. Se um se adapta bem a qualquer imprevisto, para outro tudo é fonte de stress. Se um é mais passivo perante as circunstâncias, outro reage de forma brusca a qualquer pedido. Se um é optimista e encara a vida com um sorriso, outro é muito sério e pessimista por natureza.
Muito destes traços é herdado, e faz parte do “pacote” inicial com que cada um nasce. O resto é fruto das circunstâncias que a vida lhes coloca e, principalmente da forma como os seus pais conseguem (ou não) moldar alguns traços tornando-os mais “aceitáveis” socialmente.
Mas os pais desses mesmos filhos, são também diferentes. Ter um primeiro filho não é o mesmo que ter um segundo ou terceiro, ou quarto (ou quinto no meu caso…). A idade e as experiências anteriores fazem com que sejamos diferentes para cada um deles, e por isso, a sua vivência após o nascimento e durante os primeiros anos, não é igual para todos. Também outros factores, como a presença dos avós, dos tios e mesmo de irmãos mais velhos, influencia (e muito) a personalidade e a forma de ver o mundo de cada criança.
Os pais gostam de cada um à sua maneira. Não quer dizer que gostem mais ou menos: o amor que sentem por cada um deles é infinito. Mas sem dúvida que gostam de cada um de forma “diferente”. Um será melhor companhia para ir às compras, outro será o parceiro ideal para o desporto, outro ainda o companheiro perfeito para uma viagem. Com uns fala-se de grandes teorias, com outros exercita-se a prática.
E por isso mesmo é impossível que todos sejam educados da mesma forma. Em cada caso temos de nos adaptar: à personalidade da criança e à nossa própria personalidade. Os princípios básicos serão exatamente os mesmos, mas a forma de os transmitir não resultará se todos forem tratados de igual forma.
Independentemente da personalidade de cada um, e talvez por isso mesmo, é importante transmitir os valores da família e fomentar os momentos em conjunto, de partilha de experiências e de tempo. Mas é também importante que cada criança se sinta única e por isso aconselho sempre cada pai ou mãe a passar regularmente algum tempo com cada criança em particular. Pode ser um simples almoço, não precisa ser uma tarde inteira. Mas é importante dar a cada criança tempo individual, onde possa exprimir com liberdade o que quer e o que sente, sem a pressão do julgamento instantâneo (e por vezes injusto ou precipitado) dos seus irmãos.
Os pais devem lembrar-se que são os verdadeiros modelos para os seus filhos e que de nada serve dizer, se depois não é praticado pelos próprios pais. Mais do que a palavra, é a ação que molda o comportamento das crianças. Mais importante do que um pai ou mãe diz, é a forma como se comporta.
E é também importante proporcionar a cada um a construção de uma vida independente dos seus pais (por muito que isso nos custe). Vários cordões umbilicais devem ser cortados ao longo da vida. No parto, é só o primeiro. Não significa que não gostem dos seus pais, que não os visitem, que não lhes deem mimo. Mas que saibam orientar a sua vida e enfrentar as suas dificuldades sem a presença permanente das figuras parentais, quais bombeiros em caso de incêndio. À medida que a criança cresce o nosso papel não deve ser mandar na sua vida ou condicionar as suas escolhas, mas pelo contrário, guiar, influenciar, aconselhar de forma positiva. Não devemos ambicionar filhos perfeitos, mas preenchidos com os valores que consideramos fundamentais. Tudo isto faz parte de ser família.
Paulo Oom